quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ontem fiz três vezes a Rua Augusta, outras tantas o Martim Moniz e mais umas quantas o Chiado. Em três horas e pouco. Para quê? Para encontrar uns elásticos muito específicos para o cabelo. Uns elásticos que duram qualquer coisa como dez anos. Que eu sei que eles existem.
Então e vida? Não? Gimme something new.

E um bocadinho de compreensão, não?!

Eu, às vezes, desconfio que as pessoas que estão comigo, por uma ou outra razão, ficam envergonhadas de estar na minha presença. Hoje tive a certeza disso.
Estava eu e mais dois excelsos (filhos da puta) amigos numa esplanada hoje aqui nas praias da minha zona, quando me comecei a baldar para o lado de lá por causa do calor. É que este calor, parecendo que não, tem capacidade de deixar uma pessoa completamente letárgica a babar-se pelo canto esquerdo da boca. E foi quando eu me lembrei que tinha um leque na mala. Um leque que não me envergonha do belo que é. Um bonito leque que também não deve ter amigos leques que se envergonhem dele. Até porque tem uns desenhos bastante apresentáveis assim em flor. Mais! Nem uma ponta desfiada se lhe avista. Mas estava a dizer, saco do leque e toca de o abanar vigorosamente e ai-que-bem-que-agora-sim-estou-no-paraíso. Nesta altura, olho para as duas aventesmas que estão estarrecidas vidradas em mim como se lhes tivesse revelado que nasci homem e que participo ocasional e muito badalhocamente em sessões de swing. Rapidamente, voltam ao normal e começam a falar um com o outro. Qualquer coisa como «Hoje está um bonito dia, não está?»  «Upa upa e diz que hoje é quarta-feira, veja lá que eu andava convicto que já era sexta.». Eu, astuta que só eu, percebo que algo se passa. E diz-me o T. assim em sussuro «Podes guardar isso, se faz favor?». Ao que eu respondo «Então porquê? Só eu é que sinto o calor?»
E empreenderam num discurso sobre o facto de niiiinguém nascido depois de 1950 usar leques, ainda por cima tem flores, foda-se-que-essa-merda-deve-cheirar-a-mofo e ainda um bonito caralho-está-toda-a-gente-a-olhar-para-nós, mas tudo disfarçado com um «Sim, sim está tudo muito bom, obrigadinho» quando passava um empregado de mesa. Isto tudo porque eu, hoje e só hoje, decidi que não fazia questão de evaporar. E eu penso «Então mas tu queres ver que estes cabrões estão com vergonha de ti?». Eles confirmaram que sim, se soubessem não te tinham trazido à rua, Leonor? Confirmaram, sim.
Pronto, é esta a experiência da minha vida que hoje partilho.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

«Qual é o teu maior medo?»

O maior medo dele é que os filhos não percebam o que ele lhes quer dizer. Que, quando chegam da escola, têm que comer pouco, o mínimo. Ele sabe que eles têm fome. Mas eles têm que perceber que a comida não chega ao dia seguinte se não comerem pouco.
O maior medo dela é ver o marido beber álcool. Porque é certinho e direitinho que, assim que lhe chegar ao sangue, lhe bate. A culpa não é dele, ela sabe que não. O álcool faz isto a um homem. Os vossos maridos também são assim, não é...?

O que é certo é que houve respostas a esta pergunta que deixaram aqui esta menina com o coração na boca, com os olhos rasos de lágrimas. Foda-se, há tanta gente no mundo.
Há uma mini-série assim a fugir para o documentário na 2 que dá por volta das 20h. 6 Billion Others. Perguntas directas, umas comuns e outras nem tanto. O bom do programa vem do facto de serem perguntas feitas a pessoas de 70 países, abraçando toda a puta de cultura que há no mundo.
A natureza humana crua. Sem fronteiras, sem nacionalidades. Sem maquilhagens, sem guiões, sem merdas. Só perguntas e respostas. Brilhante de simples que é. Esmagador. C'um caralho, é esmagador.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Amizade é isto, hm?

(Ao telefone.)
Eu: «Aaaaai 'tou-me a passar com o estudo, 'tou que não me aguento, vou morrer, vou morrer a estudar e vai ser disto que me vou lembrar nos meus últimos momentos de vida. É assim que vocês me vão recordar quando foram ao meu funeral: psicótica e a estudar a toda a hora. E depois esquecem-me em menos de nada.»
G.: «Hmm... Café?»
Eu: «NÃO, não é? Não tenho vida já, nem ao café posso ir. Isso, esfrega-me na cara que já podes ir ao café, ai olhem p'ra mim que já não tenho exames, olhem que feliz que eu sou que até já tenho vida. Seu... merdas!»
G.: «Otária. Queres ir a algum lado? Só p'ra apanhar ar e fumar um cigarro?»
Eu: «Não. 'Bora gozar com a novela dos vampiros que está a dar na 3.»
G.: «Está bem, deixa ver. (...) Foda-se q'ésta merda? Onde é que há professoras tão boas?»
Eu: «Sim, G., é isso que, no meio da novela toda, é o mais irreal. Espera, daqui a pouco aparece um dos vampiros.»

E estivemos nisto uma horinha, mais coisa menos coisa. A ver a novela dos vampiros ao telefone.
(No fim.)
G.: «Oh Inês, espera, não mudes, ainda não acabou.»

Está percebido? Amizade é estares com a namorada e falares uma hora ao telefone sobre absoluta e rigorosamente nada porque a tua amiga está prestes a enfiar a cabeça no forno com uma caixa de Xanax no bucho.

Cada um é para o que nasce (e devido tributo à cantina velha)

Pois é, acho que é chegada a hora de saberem uma coisinha sobre esta que vos escreve. Eu tenho uma aversão para lá de grande a cantinas. Em 8 anos, entrei qualquer coisa como três vezes numa cantina. Quatro no máximo. É que isto, parecendo que não, tem-me dificultado a vida e é uma coisa que se pudesse mudar, era sem hesitar. O tipo de coisa que ocupa o meu top 3 dos desejos que pedia ao génio da lâmpada. Limpinho. Não consigo ver um grupo maior de cinco pessoas a comer. É das tais coisas... Vou a restaurantes? Vou. Pouco, mas vou. Tenho jantares de família? Tenho, sim senhor. Mas são situações inevitáveis que uma pessoa come e cala (que trocadilho de nível). Agora, se puder escolher, vou a um restaurante com poucas pessoas, onde não haja mais que três por mesa e, de preferência, com um mau ângulo de visão para as outras mesas.
Já cantinas, só lá entrava se me arrastassem pelos cabelos. Há qualquer coisa de arrepiante em ver pessoas em mesas corridas, tudo a abocanhar a comida e, às vezes, com tão maus hábitos. Não é mariquice, é impossibilidade.
Comecei a reparar nisto nas colónias de férias. A hora das refeições era uma coisa absolutamente tortuosa. E por que é que isto me tem trazido dissabores? A primeira razão, e mais óbvia, é a puta do dinheiro que eu gasto a comer nos bares ou nos cafés na escola/faculdade em vez de gastar 2 euros e 20 na cantina. A segunda é o dar a impressão às pessoas que não me conhecem de que escondo algum segredo terrível que me impede de entrar numa cantina. Porque tooooda a gente sabe que é a única explicação para tão bizarro comportamento. «Ui ouvi dizer que ela assistiu a um homicídio numa cantina e, desde então, nunca mais foi a mesma.» Mas não, é mesmo só porque não gosto. A terceira é as oportunidades que se perdem. É do conhecimento geral que é na cantina que começa grande parte dos amores platónicos na escolinha, que se mandam os primeiros olhares tímidos, que se têm as primeiras conversas com o sexo oposto. Ora, eu não tive nada disto. Porque toda a gente se encaminhava para a cantina, na hora de almoço e eu era aquela que dizia «Então, vá, até daqui a pouco, bom almoço.» E as minhas horas de almoço nos inícios dos anos lectivos eram um bocadinho tristes. Com o passar do tempo, os meus amigos foram desmistificando a cena e percebendo que também se podia comer nos bares. Coincidência ou não, até hoje não conservo nenhum amigo que tenha o hábito de ir recorrentemente à cantina.
Começar a faculdade foi particularmente penoso porque toda a gente ia à cantina velha e eu, que queria ver como era ir a uma com mais idade em cima, fui uma vez. O problema é que a comida da cantina velha é muito boa. Mesmo boa, eu adoro aquilo. Só que havia o tal handycap. Então descobrimos uma maneira: para além de haver uma hora em que a afluência decai para aí em 90%, há umas mesinhas no 1º andar escondidas atrás de um biombo que são o paraíso. Não se vê vivalma. E é nestes dias que eu me sinto como se andasse de cadeira de rodas e tivessem descoberto uma maneira de subir escadas sem rampas.

«Então, mas olha lá, qual é o propósito deste texto?» Nenhum, rigorosamente nenhum.

Das asneiras

«Só usa essa linguagem quem pretende tornar-se marinheiro, preso ou puta.»

Ora bem... Fazendo contas... Não tenho especial afinidade com barcos... Ser presa de profissão, contudo, também me parece um desperdício das minhas capacidades intelectuais. Acho que não há muito por onde escolher, não é?

Hobby

Descobri recentemente uma coisa que me tem ocupado muitos tempos mortos: tirar a pele que morreu depois do Sr. Escaldão de há uns dias. É brutal. Passo horas nisto, às vezes acordo a pensar nisto. O meu record até agora foi uma lasca com mais ou menos 10 cm de comprimento. Se houvesse uma modalidade disto, eu era a melhor. Sei técnicas ninja para tirar a pele sem a partir e, assim, saco bocadinhos cada vez maiores.
Desengane-se quem achava que eu tenho vida, isto tem sido o ponto alto dos meus dias.

É-lhes permitido?

Onde é que me dirijo quando vou fazer aquele BI novo e, quando estou prestes a tirar a fotografia, a senhora me diz «E pentear-se? Parece que saiu de trás de uns arbustos! Ahaha»?
Eles podem dizer isto? E o que é que se responde? Ficar calada e fingir que a boca não foi para nós é aceitável?

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sou só eu?

Sou só eu que, quando estou sentadinha à secretária, prontinha para embarcar numa noite de estudo como há muito não se vê, não sei o que fazer às pernas?
Começam direitinhas, as duas para baixo, como convém. Rapidamente as cruzo. Depois a de cima fica dormente e troco-as. Chega a vez da outra. Tenho que esperar que elas acordem. Depois ponho a esquerda debaixo do rabo e que confortável que eu fico assim. Ai que ficou outra vez dormente. Apoio a direita nas caixas de arrumação e assim é que é mesmo mesmo bom. Naaa, já me dói a planta do pé. Então, vá, apoio a outra nas caixas e cruzo a outra. Pronto, parece que é desta. Ui que me desiquilibro. Então e se me encostar à estante, puser as pernas em cima da secretária e os livros em cima delas? Ora muito bem, que cheguei ao paraíso. Mas as costas começam a dar de si.
Calculo que seja desnecessário alongar-me em descrições. O «a reter» é que, passados 20 minutos de me ter sentado, doem-me as pernas, as costas, o rabo, os pés e, potencialmente o pescoço (que também entra nestas brincadeiras). Sem contar que, às tantas, a minha posição é digna da mais bem paga contorcionista do Cirque du Soleil. O que fazer então? Ir para a cama esticar-me a ler aquele livro que anda a ser lido de 2 em 2 minutos, claramente.

(ainda no seguimento)

(e correndo o risco de me repetir, mas é que eu acho que a mensagem não passou) Já não há cu para tanto sofrimento, tanto queixume, tanto «é desta que eu morro, não há ninguém no mundo que tenha um problema tão grande como o meu». Foda-se, juro que já não dá. E depois que vem tudo bater à mesma porta. Credo!

(Não é difícil perceber que eu, para os meus amigos, sou a pessoa mais fofinha do mundo, pois não? É que sou mesmo. E não lhes digo o que eles merecem ouvir, por isso é que estas merdas vêm aqui parar. E porque sei que isto agora não ia surtir efeito, só ia ouvir um «Sua vaca ingrata, hás-de cá vir.» e, parecendo que não, eu gosto um bocadinho deles. Apesar de às vezes serem burros burros que só apetece bater com as cabeças deles no chão.)

«Patinadora, patinadora à caixa central»

E agora só um minuto da vossa atenção. Xavier Rudd na Aula Magna no dia 14 de Novembro. Estão a ver onde quero chegar? Pois, muito bem.
Vá, que têm qualquer coisa como 4 mesinhos para decidir como me vão presentear com um bilhete para ver este menino.
Eu podia começar por dizer que odeio pessoas felizes, mas isso já é um cliché porque agora toda a gente diz que odeia pessoas felizes. Menos quando eles próprios estão felizes. Aí, já adoram pessoas felizes e corações e borboletas e prados verdejantes. But not me. Eu, quando ando assim contente da vida, gosto ainda menos das pessoas felizes. Começo a enojar-me comigo, até. É que há qualquer coisa de estranho em acordarmos de manhã com vontade de sair da cama, em andarmos sempre com um sorriso na cara. Especialmente quando há tanta merda. Não vou dar uma de moralista e «Ai que tenho que pensar nos outros e tantas pessoas desgraçadas que para aí há.». Caguei, não podia cagar mais de alto para isto. A cena é que me lembro que a graaaande maioria dos meus dias não são passados de sorriso nas trombas. Assim uma coisa de 98%. A bem ver, não costumo sorrir com o meu contentamento, não sei porquê, não tenho traumas de infância e merdas dessas, mas há sempre qualquer coisa, qualquer alarme que dispara quando me sinto assim... a fugir para o contentinha. Se calhar é só porque não estou habituada. Às vezes, sinto-me estúpida por andar mais leve.
Mas pronto, a verdade é que odeio pessoas felizes. Porque se esquecem de quando não estavam. E isso irrita-me sobremaneira; que achem que agora é que é, que vão morrer com aquele sorriso estúpido na cara. Isto e a tendência que a maior parte de vocês tem para se esquecer de quando esteve na merda e a facilidade em dar tudo e mais alguma coisa. Isso, para mim, só tem um nome. E não é azar, não é fé nos outros, não é uma virtude, caralho. É estupidez. A forma como, de repente, entram para um grupo de elite em que nada de mal pode acontecer, que se sentem capazes de fazer tudo e mais alguma coisa. Makes me sick que essa sensação de tudo poder advenha de outra pessoa que não a própria, blerc. E vocês sabem, bebés, que quando uma pessoa diz isto mesmo não é porque não quer a vossa felicidade, quero eu cá saber se andam felizes ou a arrastar-se pelos cantos. Fode-me é que depois venham para aqui lamentar-se que não percebem como é que aconteceu, que não estão destinados a ser felizes, que há sempre qualquer coisa e que desgraçado que eu sou. Eu tenho razão nisto, calem-se as vozes dos contentes. I know it and you know it. Eu tenho razão nisto, aliás como em quase tudo o que digo.
A sério, já não faço fretes, caralhos vos fodam. Apaixonem-se, divirtam-se, esmerdem-se, atirem-se sem olhar para baixo, arrisquem tudo, fazem bem. Mas depois não se queixem que já não há cu que aguente. Não é preciso ser um génio para somar 2 e 2 e saber que, se dão tudo, ficam sem nada. 'tários.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Para futuras considerações

Nunca mostrem o dedo do meio a um condutor de um camião TIR. Um vulgo camionista, pronto. Mesmo que vocês vão na faixa em que devem ir à velocidade a que devem ir. Mesmo que ele se ponha a um metro de vocês a 100 à hora a fazer sinais de luzes desenfreados para vocês abrirem alas e se porem a andar. Eu acho que não é assim tão difícil perceber que quanto mais irritado ele estiver, quanto mais buzinar e quanto mais nos quiser intimidar no nosso pequeno corsinha, mais tempo nós vamos ficar à frente dele. E, se não tivermos pressa de chegar ao nosso destino, se calhar ainda reduzimos um bocadinho de nada a velocidade. Mas, pronto, nunca mostrem o dedo do meio a um camionista. Porque eu desconfio que isso lhes activa o gene Camionista B26 e vá de buzinar, vá de nos ultrapassar assim à maluca, vá de nos chamar putas... E é desagradável. Especialmente quando a música vai naquela parte em que a Ella faz aquele trejeito brutal como só ela sabe fazer e nós não apanhamos porque o camionista está zangado e baixou nele um dos guionistas do Velocidade furiosa.
Mas pronto, se algum dia mostrarem o vosso dedo do meio a um camionista, continuem o vosso caminho, sem desviar o olhar do horizonte (a sério, não olhem para o boi de frente que aí é que ele pára o camião e vem atrás de vocês com um bastão de baseball). Prossigam como se não estivessem a isto de serem abalroados por um camião em fúria.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Hoje tirei o dia para escrever cartas abertas e, finalmente, corrigir todos os males que o mundo tem. Então esta consta mais ou menos assim:
«Endereçada a: senhores que fazem as embalagens de leite de 1L.
Vão para o caralho. Respeito o vosso trabalho; passar o dia a fazer embalagens paralelepípedicas não deve ser um emprego de sonho, eu percebo, a sério. Mas não acho certo escrevinharem nas próprias «Abertura fácil» porque simplesmente não é verdade. O conceito de «abertura fácil» não inclui, confiem no meu bom-senso, catanas. A sério. Nem dentadas. Nem tesouras de trinchar o frango. É vingançazinha? Se não gostam dessa merda, arranjem outro trabalho que o que não há-de faltar é muito boa gente para vos ocupar o lugar. Por tudo isto, vão para o caralho e aprendam a fazer embalagens em condições e, acima de tudo, que não ponham os nervos de uma pessoa em franja.
Obrigada,
Leonor»

Momentos de desespero exigem medidas de desespero

Neste momento, estou disposta a dar o cu e as calças a quem me der (atenção, DER, que se eu tivesse dinheiro para comprar, não vos comprava a vocês, mas sim à ticketline) um bilhete para ir ao Cool Jazz Fest ver a Corinne Bailey Rae. Ou a Diana Krall. Ou a Joss Stone com o Solomon Burke que não sou esquisita. Ao cu e às calças teria juntado uma mala linda linda que não uso porque acho horrível se me tivessem dado um para a Regina Spektor ou para a Norah Jones. Porque a panóplia para escolher é gigante, que eu só quero é facilitar-vos a vida. Se me derem um bilhete para cada um, prometo incluir-vos a todos nos agradecimentos do livro que eu vou publicar um dia. Ou na árvore que vou plantar, assim no tronco. Ou então tenho tantos filhos quanto benfeitores e ponho-lhes os vossos nomes. Que me dizem? Fica ela por ela.

Caro karma,

Quando eu era miúda, adorava magoar-me. Adorava cair, esmerdar-me, virar-me ao contrário, raspar com os joelhos, os cotovelos e tudo o que metesse sangue. Aliás, só era possível gostar mais se tivesse assistência. Ui, aí é que era uma alegria. Gostava da atenção e dos olhares de pena. Mas tinha especial apreço pelas reacções das pessoas quando me acontecia alguma coisa sensacional e elas tinham aquele ar de «Mas como é que ela sobreviveu?». E eu gostava dessa sensação de ser uma heroína dos tempos modernos a quem tudo de mau acontecia e ela se erguia no meio dos escombros. Brutal. Hoje percebo que, aos olhos dos outros (dos adultos, digo) era uma miúda que tinha acabado de cair e que eles só diziam «Ui que forte que tu és.» para eu não começar a chorar. Mas eu não ia chorar porque estava contente porque tinha caído. Os putos, como eu, os olhares desses era mesmo de admiração, que eu sei.
Outra coisa, quando caía ou cortava alguma coisa e não havia pessoas para ver, eu exibia o arranhão, o corte e embelezava a história de como tinha acontecido. Pronto, inventava uma bocadinho. Porque não tinha grande interesse dizer que tinha ido contra uma porta, era até estúpido, quando podia dizer que tinha caído da varanda ao tentar salvar um gatinho que estava preso no telhado. A coisa ia dar mais ou menos ao mesmo, a ferida estava lá.
Mas pronto, quem diz magoar-se, diz outra coisa qualquer que chamasse a atenção. E eu tinha sorte porque essas coisas aconteciam-me com relativa frequência. Tinha a certeza que quando quisesse que passasse, passava.
Ora, hoje tenho 20 anos, já não acho grande piada a estas merdas e elas continuam a acontecer. A diferença é que, quando somos miúdos, as pessoas têm pena, somos amorosos e fofinhos. Quando nos acontece e temos 20 anos, somos patéticos e desajeitados. É aqui que tu entras, caro karma. Tu és fodido. «Querias, não querias? Então toma lá.»
Hoje em dia, se deixas cair o passe na linha do metro enquanto ele não vem, se cais/escorregas com mais frequência do que as pessoas todas, se a alça da mala de estraga e ela te cai e espalha tudo o que lá está dentro, és só otário. E eu não conheço mais ninguém a quem aconteça tanta coisa estúpida tantas vezes. É desesperante. Se não, vejamos: no outro dia estava na paragem do autorcarro e, ao reparar que ele estava a chegar, virei a cabeça (não mais rapidamente do que qualquer outra pessoa) e os óculos voaram. Voaram e aterraram na estrada onde o autocarro ia passar. Foi ver-me a esbracejar no meio da rua, para que ele parasse um bocadinho mais atrás para apanhar os óculos. Havia necessidade disto? Escrevo para ver se encontro uma razão, mas só me parece mais estúpido. No mundo real, os óculos não voam da cara das pessoas, não se deixa cair o passe na linha do metro, não se cai a andar em chão liso e direito. Só mais isto: por que é que as portinhas do metro se fecham SEMPRE quando eu ainda estou a passar? Porquê? Aquilo dói, aquilo tem força, aquilo faz barulho e toda a gente fica a olhar enquanto eu tento continuar o meu caminho triunfantemente como se não tivesse acabado de ser abalroada por umas portinholas de plástico.
Não, a sério. Karma, 'bora lá acabar com esta merda. Já não tem piada, desculpa, antes eu era pita, era parvinha, não sabia o que queria. Agora já não tem piada.
Atenciosamente e esperando ardentemente uma mudança, uma prova de boa fé,
Leonor

sábado, 10 de julho de 2010

Ena c'um caralho

Para os de vós mais desinformados, há um programa que dá ao Sábado na TVI a esta hora que se chama «Portugal de olhos em bico». O nome, só por si, é promissor, certo? Ora, mas oh Leonor, esta conversa vem a que propósito? Podia ser por causa do facto de ser o primeiríssimo Sábado em que não estou a trabalhar desde Novembro do ano passado (HAAAAN?), podia ser para vos falar do facto de eu estar em casa porque na Quinta-feira apanhei um caralho de um filho da puta de um escaldão que me pôs de bruços na caminha desde ontem e sem me conseguir mexer. Mas não, venho mesmo só porque este programa é tão bom que tem que ser partilhado. Porque não acho certo alguém estar na praia ou com os amigos a beber uma g'randa imperial numa esplanada qualquer em vez de estar em casinha a ver isto. Então consta que aconteceu assim:
Um homem tem que responder ao máximo de perguntas, enquanto leva nos cornos de outro gajo, lhe atiram bolos à cara, água e tudo misturado. Eu acho que só isto dispensava as perguntas, o apresentador e até o cenário porque não tem preço e entretem uma pessoa umas boas quatro horinhas. Mas eles metem umas perguntinhas e fica ouro sobre azul.
Apresentador: «Como se chama o fato tradicional da China que aperta da esquerda para a direita (ou coisa que o valha)?»
Homem: «Bak.» (Ahh foi quase. É o que dá estes meninos não terem toda uma cultura asiática proveniente de muito e bom episódio do Doraemon e do Ninja Hattori. Para futuras referências, é o quimono.)
Apresentador: «Qual é o livro sagrado para os muçulmanos?»
Homem: «......» (Era o Corão, mas ninguém lhe pega por aí. Temos que saber estas merdas?)
Apresentador: «Qual é o planeta mais próximo do Sol?»
Homem: «Lua.» (Ooora bem, já estamos a falar a mesma língua. É a Lua, sim senhor. Quando eu aprendi, era Mercúrio, mas isto das ciências está sempre a mudar e uma pessoa não tem que estar sempre a par de tudo.)
Apresentador: «Quanto é 5 x 5?»
Homem: «.......» (Não é que esta merda de levar porrada e com bolos resulta? Vê lá se o gajo não aprendeu já a estar caladinho quando não sabe? Poupa-se ele próprio e poupa o telespectador.)
Apresentador: «Qual é o canal que separa a Inglaterra da França?»
Homem: «Itália.» (Aaai, o que é que tínhamos aprendido? Não sabe, não fala.)
Apresentador: «Qual é o treinador do Sporting de Braga?»
Homem: «Domingos Paciência.» (Pois é. Um homem com as prioridades no sítio certo. Onde é que posso encontrar um destes?)

Da próxima vez que for para a praia e me apetecer mesmo mesmo dormir dois minutinhos ao Sol, vou lembrar-me deste programa. Vai ser ver-me a besuntar o corpinho todo.

«Então e por que é que não mudas de canal, se é assim tão mau?» Eaaasy, sou daquelas que, no trânsito, abranda para ver com atenção o acidente na outra faixa, fica enjoada com o aparato e volta sempre a parar.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Ele há com cada uma...

Ir a uma oral. A primeirinha oral. A rebentar de nervos pelas costuras. Chegar ao corredor e deparar-me com uma filinha com um número considerável de desgraçados que, como eu, estão prestes a baldar-se para o lado de lá. «Eeeh laa que há aqui alguma coisa errada.» E, de facto, há. Todos, atenção, todos sem puta de excepção, vão de fato. Eles e elas. Uma ou outra com uma sainha muito recatada pelo joelho e de sapatinho lá de 1934. «C'um caralho, enganei-ne na faculdade e enveredei pela de Direito. Deixa-me sair daqui sem ninguém reparar.» Mas não, não senhor. Cheiro a merda que emana dos ratos que estão no laboratório 2? Check! Casas de banho com os símbolos trocados? Check! Paredes com infiltrações, tacos do soalho levantados, anúncios de adopção de gatinhos, manifestações e palestras? Check, check, check! Estou na minha faculdade.
Levantem-se as vozes «Então mas qual é que é a cena?». A cena, caralho, é que eu envergo um vestidinho roxo beeeem acima do joelho, directamente da feira de Carcavelos, os mai bonitos chanatos verdes de 5 euros que consegui encontrar, o cabelo cheio de emaranhados da merda de rabo-de-cavalo que fiz no alto da cabeça, suo em bica e arrasto a mala porque o calor dá cabo de mim. «Oh meu deus, que ninguém avisa ninguém que isto é como uma audiência! Ninguém diz que não é para vir como se tivesse acabado de acordar ali no parque de estacionamento? Não hei-de eu chumbar, deve estar ali dentro uma equipa de psicólogos e jurados só para avaliar o meu ar. Claro que vou chumbar!»
Meto-me na casa de banho, domo o meu cabelo, puxo sem efeito a bainha para baixo, tento colar a pouca sola que o chanato direito tem, lavo a carinha e ponho o creme das mãos na cara e no pescoço para parecer que é perfume. Vou para a fila e espero, sinto-me tão somente... estúpida.
Entro e fico a olhar para o homem a tentar articular um «Eu peço desculpa, nunca tinha vindo a uma oral, eu não sabia que devia vir vestida mais apropriadamente.». Ele larga uma gargalhada ante o meu ar de desespero e embaraço, suponho. Levanta-se e eu vejo uns calções que, se não eram de banho, pareciam, às flores, uma camisa verde-alface e umas havainas. E diz-me um «Até que enfim que alguém nesta sala está vestido de acordo com a idade!». E saem-me pelo menos 10 kg de cima. Todos de estupidez e vergonha.
Saio de lá, olho para a fila que ainda se estende e grito um silencioso «INCHEEEEEM!». Vou-me embora a ouvir na minha cabeça «Oh no no walk out the door, just turn around now 'cause you're not welcome anymore» e imagino toda a gente a prestar-me vassalagem. Porquê? Não sei, esta música sempre me soou a um grande «Mas quem é que sabe andar nesta merda?».

P.S: Passei? Não, não passei. A minha vida não é um filme, não é?